COLUNA DE JANDIRA FEGHALI NO BRASIL 247

BRASIL 247

COM A PALAVRA A DEPUTADA FEDERAL COMUNISTA.

O planejado bonde da insensatez

Os constantes protestos em exposições artísticas no Brasil
não passam de uma mirabolante e bem pensada cortina de fumaça. Grupos
neofascistas, os mesmos que foram às ruas pedir o impeachment sem crime de
Dilma e hoje apoiadores do presidente Temer, criaram um rendez-vous na
tentativa de fazer os olhos da sociedade se distanciarem dos crimes do
mandatário ilegítimo. Com a segunda denúncia batendo às portas do plenário da
Câmara dos Deputados, os 14 milhões de desempregados e cortes brutais no
orçamento de políticas sociais, o país todo se envolve numa discussão sobre
censura.
Os que atacam a liberdade artística o fazem com argumentos
distorcidos, moralistas e atrasados. Ao mesmo tempo em que defendem
fervorosamente a moral e os bons costumes e chamam exposições de verdadeiros
cultos à pedofilia, projetam líderes oportunistas e abraçam às escondidas o
presidente mais rejeitado do Brasil. Chegam a compartilhar das ideias
preconceituosas de um ex-ator pornô, que se gabou em plena rede aberta de
televisão de violentar sexualmente uma mãe-de-santo. As contradições do bonde
da insensatez não têm fim pois o oportunismo reina entre os paladinos da
Justiça.
É cada vez mais comum ouvir pedidos de censura artística
daqueles que se insurgem contra essas exposições. Na ótica desta minoria
política míope, artistas que construíram novas óticas e reflexões sobre o
mundo, não mais teriam lugar nos espaços culturais. Nus, imagens distorcidas e
até a retratação fiel de uma realidade violenta não cabem na mentalidade
daqueles que só enxergam o que lhes interessa politicamente.
Lutar em prol dos direitos das crianças, adolescentes e
mulheres nada tem a ver com o que tem sido feito por estes grupos. A dignidade
é reafirmada na liberdade. A pluralidade de valores da humanidade e da sua
cultura precisam da liberdade de criação, da liberdade artística. Até porque
defender a liberdade tem a ver com a defesa da educação crítica, de um mundo em
que as crianças podem debater e discutir o que está a sua volta, sem tabus ou
preconceitos. É desta forma que se constrói uma sociedade mais forte e
potencialmente inovadora.
Daqui a pouco, a persistirem os brados inconsequentes,
veremos uma turba raivosa queimar livros em praça pública, assistiremos teatros
e palcos invadidos, artistas impedidos de se apresentarem, e até mesmo cinemas
queimados, por colocarem em cartaz filmes que tratem de temas polêmicos e não
condizentes com o Brasil submisso e alienado que pretendem alcançar. Em que
momento nosso país, que já celebrou sua diversidade e riqueza cultural, se
transformou em terra do preconceito e da hipocrisia? A resposta vem fácil. A
onda de intolerância ganhou força a partir do momento em que nossa democracia
foi ferida de morte. Vivemos mais uma etapa nefasta do golpe que parece não ter
fim.
É hora de termos consciência dos efeitos do golpe e de como
eles atingem de forma dramática o desenvolvimento pleno de toda uma geração.
Crianças e adolescentes sem acesso à cultura e à educação. Um Brasil congelado
e condenado a reviver um passado que nunca esperávamos ver ressuscitado. O
horizonte só se abrirá e devolverá essas ideias ao esquecimento que merecem a
partir do fortalecimento da democracia. E isso só acontecerá com a luta diária
de todos nós para devolver ao povo o direito de escolher seu governante maior.
Atravessemos, com coragem, a cortina de fumaça e expurguemos do poder, unidos,
o ilegítimo grupo que lá está. Sem armadilhas e sem máscaras moralistas, o
Brasil precisa avançar na defesa de sua liberdade.

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