COLUNA DE ROBERTO AMARAL NO BRASIL 247

BRASIL 247

A pior crise de toda a história republicana

COM A PALAVRA O EX-PRESIDENTE NACIONAL DO PSB

A questão crucial da crise brasileira não encontrará saída
no remendo eleitoral que a imprensa chama de “reforma política”, na
verdade um conjunto de casuísmos cujo objetivo é assegurar que nada mude, ou
seja, que os de cima permaneçam mandando contra os interesses dos de baixo.





Antes de sugerir alternativa ao caos de hoje, a falsa
“reforma” aprofundará a crise de representatividade, cavando ainda
mais fundo o desalento nacional, refletido em pesquisa do instituto Ipsos,
recentemente divulgada, indicadora de que 95% da população brasileira não se
identificam com seus governantes. Enquanto os músicos tocam e os casais dançam,
o Titanic caminha na direção de seu naufrágio.

O que se assiste em Brasília, com o inefável protagonismo de
um Congresso ilegítimo em movimento de autodefesa, isto é, em defesa, proteção
e renovação dos mandatos, em sua maioria esmagadora mal adquiridos e mal
exercidos, é uma trampa, uma farsa, uma comédia de mau gosto, diríamos, não
fossem trágicos e ameaçadores os seus efeitos. E o mais deletério de todos os
males é a degradação dos Poderes, todos os três partícipes ativos da obra
coletiva de destruição do projeto Brasil, a construção de um país desenvolvido,
democrático, livre da miséria e promotor da igualdade social. A crise de nossos
dias, passados quase 13 anos de afirmação nacional, renova em nosso povo o
velho temor: será que o Brasil está mesmo condenado a jamais dar certo? Esta
crise é a mais ampla e a mais profunda e perdurante e peçonhenta de toda a
história republicana, que conheceu duas ditaduras e vários governos
autoritários, pois pervade todos os espaços da vida nacional, a começar pelos
escaninhos da economia e da política até alcançar, e eis o indicador de sua
maior malignidade, o plano ideológico com o assassinato da esperança.
Aprofunda-se, assim, o “complexo de vira-lata”.
O coletivo que ora nos governa — a coalizão formada pelo
Executivo, pelo Judiciário, pelo Legislativo, pela mídia hegemônica, pelas
Fiespes da vida e pelo sistema financeiro — aposta no desalento das grandes
massas que fomenta para manter-se com as mãos livres no processo bem pensado,
bem planejado e bem aplicado de destruição nacional, desmontando as bases de
nosso desenvolvimento, o que implica renúncia ao futuro.
Executivo, Legislativo e Judiciário, cada no seu mister (não
há inocentes nessa miséria), vão contribuindo para o aprofundamento da crise
política que transborda para o impasse institucional.
A Petrobras está sendo desconstituída peça por peça, seus
ativos estão sendo vendidos na bacia das almas para as concorrentes
multinacionais, e brevemente voltaremos à condição de grandes importadores de
derivados de petróleo e de petroquímicos; o BNDES não será privatizado, mas já
está sendo minado seu papel como indutor de desenvolvimento, sua razão de ser,
e só isso explica o empenho em igualar a taxa de juros dos seus empréstimos à
dos bancos privados. A pesquisa científica e os investimentos em inovação (em
que estamos tão atrasados!) foram reduzidos a zero, as bolsas de estudos
concedidas pelo CNPq e pela Capes estão ameaçadas de findar já no mês de
setembro, e as universidades públicas sofrem sob um regime de penúria, que já
atinge instituições fundamentais como a Finep e a Fiocruz. A toque de caixa,
porque “o governo tem pressa” serão vendidas a lotérica da Caixa
Econômica, a Casa da Moeda e o aeroporto de Congonhas, o mais rentável entre
todos. São, no conjunto, 57 projetos de privatização. E, para a alegria
justificada de O Globo e do Estadão já é anunciada a privatização da
Eletrobrás, com seus reservatórios, depois de iniciada a da Chesf e a da Cemig,
que levará consigo a Light. O tal do “mercado”, diz o Estadão do dia
23, prevê uma alta de 178% no preço da conta de luz.
Essa desmontagem do sistema elétrico brasileiro, ao lado da
paralisação das obras de Angra-3, dificultará, ainda mais, a recuperação
industrial e pode constituir-se em ameaça à segurança nacional tão grave quanto
a paralisação do projeto de construção de nossos submarinos, sem os quais nossa
costa (7.491 km) permanecerá desguarnecida, atiçando aventureiros. As terras
indígenas, objeto de grilagem, estão sendo abertas à mineração e as áreas de
fronteira entregues à especulação internacional. E tudo isso constitui, apenas,
a ponta de um profundo iceberg.
O que mais podemos esperar de trágico se esse governo,
corrupto e lesa pátria, não for detido?
Perigosamente para a democracia, a desmoralização dos
poderes da República tem continuidade com um Congresso que legisla de costas
para a população e à sua frente só mira interesses pessoais e negociatas, e um
Judiciário que, lerdo nos julgamentos, interfere no andamento da política,
avança sobre a competência do Legislativo (por exemplo, ‘legislando’ em matéria
eleitoral) e é acusado de parcialidade política e desvios éticos, como o
usufruto de privilégios antirrepublicanos. Pode haver miséria maior do que o
povo não poder confiar na sua Justiça? Mas que dizer de um STF cujo mais
significativo símbolo diante da opinião pública é o ainda ministro Gilmar
Mendes, desenvolto empresário, conferencista, viajante, organizador de
simpósios e colóquios, advogado de defesa e assessor legislativo de Michel
Temer, o presidente denunciado e julgado no TSE pelo seu advogado?

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